sábado, 8 de dezembro de 2007

Ecos da Imprensa

«…A arrogância e o desprezo pelas greves está muito para além da discordância com os seus objectivos, é uma manifestação antidemocrática e mais uma, entre muitas manifestações do tardo-salazarismo inscrito no nosso espaço público e que abomina o conflito como se fosse um mal, e que deseja um mundo sem ondas e sem confrontos, onde os negócios prosperem sem complicações, em que uma mediocridade remediada seja a regra para todos e onde a ausência de escrutínio e vigilância democrática decorrem do peso abafador dos consensos. Um pouco como já acontece com a “Europa”.
Mas, a realidade que mobiliza os grevistas é incontornável e tem a ver com o empobrecimento dos portugueses…

…Quando tudo isto é recebido por manobras comunicacionais e spin do Governo e dos seus apoiantes, transformando sinais de empobrecimento e estagnação em sinais de que se vai no “rumo certo”; quando a oposição do PSD continua muda e calada quando não ao lado do Governo, às claras ou às escondidas, a negociar tudo e todos, com meio mundo; quando mesmo os cínicos habituais do jornalismo ficam estranhamente apáticos e complacentes; quando numa sociedade em que as dependências e a precariedade são tantas que poucas vozes são efectivamente livres, apoucar os grevistas de hoje é ser parte da pasmaceira colaboracionista em que nos atolamos. É que há mais dignidade cívica nos grevistas do que naqueles que se queixam por tudo o que é recanto discreto ou anónimo dos males da governação Sócrates e não têm coragem para alto e bom som dizer o que pensam e sofrer as consequências.»

José Pacheco Pereira, Historiador

Público 01/12/2007

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